26
Set 11

 

Naquela noite, sentei-me na minha cama e coloquei os fones nos ouvidos para tentar abafar a gritaria que vinha da sala de jantar. Já por duas semanas que aquilo se repetia todas as noites e como sempre, enfiava-me no quarto a pensar no que fazer e tentava não ouvir a voz do meu pai a gritar com a minha mãe.

Nesse dia a gritaria tinha sido ainda pior e já nem a música conseguia abafar os gritos da minha mãe; eu sabia que ela não merecia o que estava a acontecer e decidi que tinha de fazer alguma coisa: – relatei ao juiz, com a cara voltada ligeiramente para baixo – tirei os fones e saí disparada para a sala.

Quando lá cheguei deparei-me com uma visão terrível: o meu pai a puxar os cabelos à minha mãe. Verbalmente, já sabia como ele era, mas daí a agredir a minha mãe fisicamente, era outra coisa.

Implorei-lhe que deixasse a mãe em paz mas em vez disso, ele disse “Entre homem e mulher, não se mete a colher”. Claro que achei aquilo uma estupidez de todo o tamanho mas a única coisa que saiu da minha boca foi qualquer coisa como “Eu já tenho dezasseis anos!”. A minha mãe interrompeu-me aflita, pedindo-me que fosse para o quarto mas eu ignorei-a e virei-me outra vez para o meu pai; ameacei chamar a polícia e ele gritou-me que parasse de o desafiar, ou quem sofria era a minha mãe.

Lembro-me de ter ficado parada por segundos a olhar para o rosto da minha mãe, as lágrimas caiam dos seus olhos, estava vermelha e dava para reparar perfeitamente nas gotas de sangue no canto do lábio inferior. Só pensava em como o meu pai se tinha tornado naquele monstro. Ele era o mesmo homem que me levava ao parque todos os sábados e brincava comigo, era o mesmo homem que me comprava vestidos de princesa e alegrava-se a olhar para mim a rodopiar nesses mesmos vestidos. Mas ele mudara.

 

publicado por ♥ C. às 21:00
editado por Mafav às 20:23
Setembro 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
28
29
30
arquivos
About Us
♥ C.
♥ Rawr M.
pesquisar neste blog
 
links