Mandei uma última mensagem ao Hugo a confirmar a minha presença nessa tarde; sentei-me à mesa para acabar a ficha de matemática mas a minha paciência rapidamente se desvaneceu. Deu-me uma sensação súbita de raiva e com apenas um braço mandei tudo o que estava na mesa para o chão, provocando um estrondo. Não sabia o que se passava comigo desde a separação dos meus pais, mas sabia que alguma coisa se passava e que eu estava, de longe, muito diferente.
Ouvi a minha mãe a chegar a casa à hora de almoço e suspirei de alívio por ela não ter chegado a tempo de ter ouvido o que se tinha passado, apesar de isso agora não ser o mais importante. A minha mãe chamou-me e pediu que lhe ajudasse no almoço mas eu respondi-lhe com um:
-Vou sair. T-chau – Sem esperar pela sua resposta, atirei o telemóvel para dentro da carteira e saí disparada de casa; liguei ao Hugo e ele aceitou que nos reuníssemos mais cedo do que planeámos.
***
Eu, Hugo, a sua irmã Catarina e o Diogo estávamos reunidos na casa do último a preparar tudo para o grande assalto ao minimercado Freitas.
-Não percebo porque é que em vez de irmos assaltar um supermercado ou o centro comercial temos de ir para um minimercado… sinceramente! – Já todos conhecíamos as queixas da Catarina,que achava que éramos ladrões profissionais, por isso limitámo-nos a ignorar.
-Ora bem... Hoje às vinte e três em ponto, à hora que a dona sai da loja pegamos nas gazuas e escondemos-nos na pequena floresta que há lá ao lado. Depois, é só esperar que ela ligue o motor do carro e que baze e lá vamos nós... - Explicou o Boss como se fosse a ideia mais espectacular do mundo - ‘Né uma ideia espectacular?
-Oh, Hugo, tem lá calma... E se a porta estiver trancada por dentro? - inquiri - Se estiver trancada por dentro, as gazuas não servem para nada...
-Opá, mas tu és burra ou fazes-te? Uma mera empregada de loja não faz a mínima ideia de como se tranca uma porta de dentro! - Resmungou o Diogo, mesmo antes de o Hugo intervir:
-Tem calma Di, é o primeiro assalto dela, não tem de saber tudo, sim?
Não vale a pena dizer que corei que nem um tomate mas a verdade é que não estava habituada a este ambiente e muito menos que alguém me defendesse, nem que fosse apenas para acalmar o amigo.
Quando dei por mim, já estava na pequena floresta à espera que a dona da loja fosse embora. Assim que uma fresta da porta do minimercado se abriu, baixámo-nos todos e só voltámos a espreitar passado pouco tempo depois de termos ouvido o motor de carro.
-Vamos? - Perguntei num sussurro
-Bora...
Levantámo-nos todos e, tal como o plano dizia, eu e o Hugo entrámos com a gazua enquanto a Catarina e o Diogo ficaram a vigiar no exterior. Claro que quando o plano foi elaborado eu admirei-me porque como era a menos experiente devia ficar apenas de vigia mas nem sequer tive tempo para abrir a boca em relação ao assunto.
Assim que entrámos, o Hugo dirigiu-se para a caixa, enquanto eu peguei em sacos e os enchi com comida, bebidas e tabaco.
-Conseguiste abrir a caixa? - Perguntei baixinho, enquanto colocava uma caixa de gelados à pressa num saco. Em vez de responder, o Hugo abanou umas quantas notas no ar com um sorriso triunfante na cara.
De repente ouvimos um miar,o sinal que tinhamos combinado para o caso de termos sido apanhados, e olhámos um para o outro com caras de aflição.
-Bolas, o que fazemos agora? - perguntei, sentindo um arrepio na espinha.
A verdade era que tínhamos estado demasiado preocupados com o que fazer ao dinheiro e não tinhamos traçado nenhum plano para o caso de sermos apanhados.