Depois de garantir que o meu irmão não iria contar nada à mãe, abandonei o quarto e fui para a saleta, uma sala pequena com televisão e sofá; deitei-me no sofá e espreguicei-me de tal forma que caí deste abaixo. Comecei a rir-me de mim própria após me ter deitado de novo e coloquei a TV no canal Vh1. Estava a dar uma homenagem ao 2-pac pelo que eu mudei logo de canal para o Travel & Living e comecei a ver Cake Boss.
Fiquei ali mais de meia hora até reparar que a minha mãe estava à porta da saleta com uma senhora com ar nerd e um nariz empinado.
-Porque é que estão aí especadas a olhar para mim, não sabem fazer mais nada? Quem é essa mãe? - perguntei com um ar preguiçoso
-Esta é a Sr. Elisabete, a tua psicóloga. Para te sentires mais à vontade, vão ter as reuniões aqui em casa. - Explicou-me, com a cara de quem me estava a oferecer o melhor presente de Natal do mundo inteiro.
-Eu não preciso nem vou ter reunião nenhuma com a senhora! Se quer dinheiro, eu dou-lho, mas pode esquecer o resto!
Dito isto, desliguei a tv no botão e saí da saleta passando por entre as duas sem um sorriso ou uma cara relativamente bem disposta.
*Que raio de coisa que ela se foi lembrar...! Uma psicóloga! Quem precisa de psicóloga é ela!*
***
Estava trancada no quarto à tempo suficiente para perceber que a minha mãe e a dita psicóloga estavam na sala a falar dos meus problemas. Aqui quem tem problemas são elas e o pior deles todos é falarem nas costas das pessoas! Saí do quarto e quando cheguei à sala a minha cara não podia ter ficado mais chocada. Sentados na sala estavam a psicóloga, a minha mãe, o meu pai e a rapariga com aspecto de dezanove anos com quem o tinha visto na discoteca.
-O que... o que é que se passa aqui? O que estás aqui a fazer pai? Ainda por cima com essa... essa cabra com quem te vi aos beijos todo pedrado na discoteca! - Estas foram apenas umas das perguntas que lhe fiz sem sequer esperar pela sua resposta. O que interessava é que haviam imensas coisas para me explicarem e a minha cabeça já estava à volta só de pensar nas respostas.
-Primeiro, é bom que não fales assim com ninguém muito menos com a tua própria família. Agora sim acredito no que a tua mãe me estava a dizer, tu mudaste mesmo! - Disse-me com uma tal agressividade que se não tivesse meia inconsciente já lhe tinha espetado um murro no meio da cara.
-E fala o homem que não mudou! - Tinha imensa raiva para despejar mas tive me tentar controlar, não fosse eu arranjar ainda mais problemas - Sim, admito que mudei, mas é mais que óbvio que vocês sabem todos a razão disso! Se fumo, se tento assaltar casas e carros, se vou à discoteca e tenho relações sexuais - estava a exagerar, obviamente, mas isso era uma coisa bastante importante quando se resolviam assuntos destes - a culpa é toda vossa e nem tentem desmenti-lo!
- Já tens relações? - questionou a minha mãe com uma tristeza no olhar.
- Óbvio! Sinceramente, não me interessa minimamente o que vocês pensam. Só quero saber uma coisa... O que é que esta... ,para não dizer outra coisa, gaja está aqui a fazer? - disse sem hesitar, enquanto me sentava na borda de um sofá.
- Esta tem nome, Matilde! Chama-se Bárbara e é a minha namorada. Sê simpática para com ela e é se queres continuar a ter a vida que tens! - Gritou-me como se eu fosse insignificante ou precisasse dele para viver.
- Realmente, pai, tens razão! Eu não quero continuar a ter esta vida, quero outra, outra bem melhor e sem vocês todos! Cambada de idiotas... - Aí percebi que tinha passado dos limites e quando voltei à realidade o meu pai estava a apertar-me o braço direito com toda a sua força e a tentar ser impedido de o fazer pela psicóloga e pela minha mãe. Já a idiota da sua namorada estava com um sorriso cínico na cara como se eu realmente o merecesse. E talvez até merecia...
No final do dia já tinha um horário de consulta com a psicóloga e ficámos de nos encontrar três vezes por semana, ou talvez não... - pensei. Fiquei de castigo e a minha mãe tirou-me à custa as chaves de casa mas eu não fiquei nem um pouco importada com isso, visto que agora a minha porta de entrada e de saída chamava-se janela do quarto. No fim da sessão com a psicóloga a verdade é que não me sentia melhor ao contrário do que lhe tinha dito e não estava nem sequer um pouco interessada em voltar lá outra vez.
***
Tinham passado quase dois meses desde a minha primeira consulta com a psicóloga e o pior dos males era a escola ter começado. Aquela cena de ter de acordar às sete horas era uma verdadeira idiotice mas pelo menos enquanto a minha mãe não começasse a trabalhar, tinha de o fazer. Levantei-me como de costume, vesti-me sem sequer olhar para a roupa e fui preparar o pequeno almoço para mim e para o Duarte.
-Oh Matilde, despacha-te lá senão chego atrasado às aulas! - Queixou-se o meu irmão de forma a que parecesse super ansioso para as aulas.
-Não precisas de mim para apanhar o autocarro. - Disse, enquanto abria a boca para bocejar mais uma vez. Levei outra colher de cereais à boca e desisti.
Peguei na carteira sem livros ou cadernos diários, dei a mão ao Duarte e fomos ter à paragem do autocarro.
Entramos no autocarro, sentamos-nos os dois nos bancos do fundo e seguimos viagem até chegarmos a um dos sítios aonde eu menos gostava de estar, a escola.
As aulas, como sempre, estavam a ser uma seca até que chegou a aula de Inglês com a professora Lurdes, a quem todos apelidavam de “Bruxa” ou “Malvada”. Eu costumava sentar-me na última carteira da segunda fila a contar de trás, bem de propósito para que a stora nunca me apanhasse na conversa ou desatenta. Mas hoje para minha surpresa, o meu lugar estava ocupado; revi a fila com os olhos e todos os lugares estavam ocupados.
-Oh stora, então onde é que eu me sento? - perguntei enquanto procurava um lugar de jeito para me sentar.
-Em inglês, menina Matilde, quantas vezes terei de lhe dizer?
-Oh stora, poupe-me! Agora em inglês quando estamos em Portugal?
-Say it! - gritou a professora com uma voz finissima, horrivel.
-Ah, okay... So... Where do I sit?
-Next to Daniel. - Respondeu com um sotaque britânico perfeito, antes de eu me dirigir até à mesa do Daniel que ficava mesmo na segunda fila. - Fast, please.
Assim que me sentei ao lado do tal Daniel reparei que ele não me era familiar e achei estranho ninguém me ter avisado que tínhamos um novo aluno na turma.
-Ehh... - gaguejei - Olá, acho eu...
---
Espero que tenham gostado deste capítulo :] ahan, novo rapaz na turma!
O que acham que se vai passar? Não, não vai ser mais uma história de amor de uma rapariga com um rapaz novo na turma... ou será que vai? Opiniões?
Beijinhos