-O que é que estás aqui a fazer, Hugo!? Agora vais entrar em minha casa quase todos os dias sem avisar? Além disso, como soubeste onde estava?
-Eu ontem entrei na tua casa pela janela à espera de te encontrar mas quem encontrei foi a tua mãe. Ela começou logo aos berros mas depois de lhe dizer que sou teu amigo ela explicou-me tudo!
-O que estava a minha mãe a fazer no meu quarto? - Inquiri, com a curiosidade a assaltar-me.
-Nada... acho que só estava a limpar o quarto ou uma cena assim...
-E falares mais baixo, não? O meu irmão está ali a dormir. - Virei-me para olhar para o meu irmão mas quando dei por ele, estava já acordado. - Já acordaste puto adormecido?
-Sim. Quem é esse?
- Este é o Hugo, um amigo meu. - respondi-lhe com um sorriso na cara - Agora vai lavar-te ou vestir-te enquanto falo com ele ok?
-Tomei banho ontem quando saí de casa... não me apetece!
-Eu disse para te lavares ou vestires, não te obriguei a lavar-te! Anda lá, despacha-te mas é!
-Vestir-me? À frente do teu amigo?
-Olha, zonas intímas já ele viu muitas! - Disse, ao surgir um pequeno sorriso na minha cara.
- Caraças, vou para a casa de banho vestir-me! Já nem privacidade há! - resmungou enquanto pegava na roupa e se dirigia à casa de banho.
-O puto sabe coisas! - disse o Boss enquanto se ria e se atirava para cima da cama.
-Claro! Ensinei-lhe muitas!
-Bem, vim aqui para saber como estavas e se o teu pai não te fez nada.
-Falas como se soubesses muito do meu pai... Olha, já foi uma sorte termos dormido numa cama, por isso vê lá se tiras essas botas nojentas de cima dos lençóis!
-Enaaa, a miúda hoje está violenta! - Riu-se, enquanto descalçava as botas e puxava um lençol para cima dele - Está aqui frio, não está bebé?
-Não me venhas com essa agora! O meu irmão só está na casa de banho e estou numa pilha de nervos! - Chamou-me com um dedo para o seu lado e assim o fiz, deitando a minha cabeça no seu ombro, mas pelos vistos os seus planos eram outros quando me começou a beijar no pescoço e a colocar a sua mão dentro da minha camisola. Dei-lhe um estalo na mão e mandei-lhe parar, afinal de contas o Duarte não estava assim tão longe. Ele voltou a recompor-se e deixei-me estar encostada ao seu ombro enquanto me acariciava os cabelos.
-Amor, já trataste do teu amiguinho? Tem mesmo ar de gay...
-Ele é meu amigo. - Disse, ficando subitamente severa e afastando-me um pouco dele; riu-se.
-Eu também sei ser irónico, mas que tu és boa, és.
-Eu não estou a ser irónica. - e ele percebeu logo isso quando me levantei e voltei costas para ele.
Ele levantou-se e abraçou-me por trás, aproveitando e dando-me um beijo na bochecha.
-Ele ficou muito incomodado ao ver-nos juntos.. Tens a certeza que é só um amigo? - perguntou enquanto me virava para ele.
-Nós também somos amigos... Afinal de contas, nunca tomámos esta relação como oficial.
-Tu, sua cabra, estás a querer dizer-me que...? - Afastou-se num salto de mim e o Duarte chegou mesmo a tempo de o ver empurrar-me para o armário que estava aberto e me fez cair com um enorme estrondo. Guinchei de dor e as lágrimas vieram-me aos olhos:
-Eu não disse nada disso idiota... Mas agora, podes ter a certeza, que de amigos não temos nada! Nem de amigos nem de outra coisa parvalhão!
-Amor eu não quis...
-SAI! - gritou o Duarte antes de correr para se agachar ao meu lado - Estás a sangrar do nariz, mana! - Exclamou, espantado e lançando um olhar desafiador a Hugo.
- Amor, desculpa-me, tu sabes que eu não me consigo controlar.
-É que nem venhas com essas desculpas. É bom que saias e é já! - disse enquanto limpava com a mão algum do sangue que escorria pelo meu nariz.
-Que se passa aqui? - perguntou o meu pai ao abrir a porta do quarto e se deparar com aquela confusão - -Quem é esse rapaz Tila?
-Era um amigo dela... até hoje! - Respondeu o Duarte, e muito bem, por mim - Entrou cá sem ninguém saber!
No fim do Duarte ter dito isso, o meu pai fez uma coisa que me surpreendeu:
-Tu nunca mais voltas a falar com a MINHA filha e muito menos a entrar nesta casa sem autorização! - Berrou, enquanto empurrava o Boss pelo quarto fora e saía também ele do quarto.
Passado um minuto o meu pai voltou trazendo uma caixa de primeiros socorro, ajudou-me a estancar o sangue do nariz e desinfectou as imensas feridas que tinha.
-Pai? És mesmo tu? - Perguntei, surpreendida enquanto ele se preparava para sair.
-Não quero que me acusem no tribunal por te deixar a sangrar e por deixar portas destrancadas. - Disse, de uma maneira não muito carinhosa. Afinal ele não estava a ser simpático, só não queria que eu não o culpasse. Sinceramente, como é que eu fui acreditar numa coisa destas?
Como só no dia seguinte é que íamos começar a escola nesta nova cidade, tive de me tentar entreter a mim e ao meu irmão; graças a Deus tinha trazido o meu computador e a nintendo por que se não fosse isso tinha de aturar o meu irmão até ao resto das nossas vidas.
Já eu, ocupei-me de fazer aquilo que tinha planeado fazer antes de o Boss ter entrado cá em casa; obviamente que a primeira mensagem foi dirigida a ele (mesmo que tivesse sido por más razões).
“É que tu nem tentes voltar a entrar nesta casa e muito menos tentar falar comigo. Nem amigos, nem namorados, nem amigos com curtes, agora entre ti e mim não há nada. N-A-D-A.”
Para a Mafalda em vez de uma sms decidi ligar-lhe e contar-lhe tudo: desde a minha mudança, passando um ou dois minutos pelo Daniel e acabando na manhã de hoje.
Foi com alívio que no fim da chamada suspirei, deitei-me e abri o diário para descrever mais uma longa conversa e longos pensamentos.
Querido Diário,
De certa maneira, estou feliz por ela não se ter importado muito com a minha mudança para cá, mas de outra forma gostava que ela às vezes fosse mais compreensível, afinal os pais dela estão juntos e bem juntos. Eu sei que fizemos as pazes mas ela continua a dizer que estou demasiado diferente; não tenho culpa, ou talvez tenha... costumo atribuir a culpa aos meus pais, porque se não fosse a sua separação eu não estava assim, mas talvez... talvez eu tenha sido a responsável por tudo isto! Também falámos do Daniel e da sua reacção ao se deparar comigo e com o Boss; ela aconselhou-me a ir falar com ele directamente em vez de ser por telemóvel mas o meu pai diz que só temos direito a ir a Braga aos fins de semanas.
Diário, estou a pensar ir lá neste sábado e deixar o Duarte em casa da mãe durante a manhã. Depois, vou directa a casa da Mafalda só para a ver pessoalmente e depois despeço-me rapidamente para ir ter com o Daniel... (hoje sonhei que o tratava por Dani e até que não me parece mau...). Quando chegar lá, falo com ele e pronto... espero para ouvir a sua resposta... Até lá, restam-me mais dois loooongos dias de espera.
Um abraço da tua rebelde e selvagem (apesar de nesta carta ter sido querida) Matilde.