Os dois dias seguintes foram dos piores e os mais longos dias que já passei. Toda a gente me olhou de lado; ao início não sabia a razão mas depois ouvi-os a referirem a palavra piercing, rebelde e estranha na maior parte das frases. Aí percebi que lhes incomodava ver-me com um piercing, mas decidi não pensar nisso, afinal, isso não era o mais importante. Nas longas horas que passava sozinha a única coisa que pensava era como e o que ia a dizer ao Daniel. Até que chegou o tão esperado dia, o sábado.
Apanhei o comboio até Braga e fui directa à casa da Mafalda, tal como estava no meu plano. Abracei-a fortemente quando a vi e aproveitámos meia hora para pôr em dia os últimos acontecimentos e para a pôr a par do meu plano para a conversa com o Daniel. Despedimo-nos e logo depois de ela me ter desejado sorte pus-me a caminho da casa do Daniel, ansiosa com o que poderia acontecer, e também com algum medo da sua reacção. Ainda tive de andar uns vinte minutos a pé mas tudo compensou quando cheguei a sua casa e fui recebida num forte e apertado abraço do Daniel. Não estava mesmo nada à espera e foi por isso que durante uns segundos fiquei meia inconsciente e com a boca aberta em sinal de surpresa.
-Daniel? - Era uma pergunta retórica, mas que fazia todo o sentido.
-Tive tantas saudades tuas. - disse-me enquanto me olhava nos olhos com aquele seu ar sempre carinhoso e amigo.
-Mas.. Mas.. Tu não estavas zangado comigo? - perguntei-lhe ainda surpreendida e um pouco em choque.
-Dizes bem: estava. Agora já não estou... - E aí, foi quando percebi que era o momento; o momento tinha chegado e eu sabia que estava pronta. Não era o rapaz que tinha desejado quando era uma rapariga pequenina e vaidosa, e muito menos o rapaz que desejava à um dia atrás, quando era uma rebelde que andava por aí a assaltar mini-mercados e a fumar com amigos. Mas era o rapaz, que hoje amava e com quem tinha a certeza que poderia passar lindas tardes a beber chocolate quente e noites loucas apenas com apenas um lençol por cima.
Agarrei-me a ele com todas as minhas forças e aí, à entrada da sua casa, demos o nosso primeiro beijo; quando menos esperávamos ouvimos três palmas bem fortes mesmo atrás de nós.
Olhamos para dentro de casa e deparamos-nos com um rapaz que não esperaria ver naquele momento ou melhor, nem sequer o conhecia.
-Oh, é verdade Matilde, este aqui é o Rui... é um amigo meu, sabes? Não sabia que vinhas cá hoje...
-Pois, eu só o conhecia de vista e aliás ele é amigo da Mafalda, por isso... - arrependi-me logo, quando reparei que estava a falar do Rui como se ele não estivesse lá; corei que nem um tomate e dei um passo para trás.
-Ah, já sei, a Mafa falou-me de ti..!- exclamou o tal Rui completamente à vontade, com uma voz grave que eu não estava nada à espera.
-Bem, se calhar é melhor eu ir-me embora já que estás com ele...
-Não, fica! Podemos ver um filme os três ou jogar um jogo? - convidou o Dani com o seu melhor sorriso na cara
-Sim, se não se importarem... Ainda tenho tempo até ter de ir buscar o meu irmão - dei uma vista de olhos rápida para o relógio e passado dez minutos já estávamos a discutir por quem jogava primeiro Mario Kart. - As raparigas são sempre primeiro..!
O Rui lançou-me um olhar desafiador mas rapidamente ficou sério como ficou a rir; era um ambiente de total descontra.
-Mas eu sou o experiente nisto, tenho de vos mostrar como é! - disse o Dani mesmo antes de me arrancar o volante da mão.
-Pronto, está bem! Desisto! - fingi que estava zangada mas ninguém se importou. Jogámos, jogámos até as nossas mãos e olhos doerem e quando finalmente alguém se lembrou que estava cansado, olhei para o relógio e fiquei em choque. Tirei imediatamente o telemóvel do bolso e deparei-me com três chamadas não atendidas e duas mensagens. Bolas, pensei, o pai agora nunca me vai deixar voltar cá. Despedi-me do Dani com um beijo rápido e acenei um adeus ao Rui, antes de voltar mais uma vez à minha caminhada de quase vinte minutos até à casa do amigo do Duarte, onde o tinha deixado.
***
-Eu quero saber imediatamente porque é que vocês demoraram tanto tempo a chegar! Eu dei-vos cinco horas e mais um bocado e vocês duplicavam o tempo... É bom que começem a falar e é já! - Gritou o meu pai, assim que nos viu a entrar pelo portão da casa. Suspirei, já sabia que isto ia acontecer e desta vez, ele até tinha razão, embora eu não o quisesse admitir.
-Desculpa pai... não foi por mal! Nós nem sequer demos o tempo a passar, não foi mana? - Duarte virou-se para mim com aquela cara de quem ia rebentar em lágrimas nos próximos segundos, e eu, apesar de saber que qualquer movimento demasiado brusco ou carinhoso o poria em lágrimas, não pude evitar abraçá-lo. E mais uma vez, estava certa.
-Duarte, deixa de ser criança... isso é outra prova que a vossa mãe vos mimou demais! Mas eu e a Bárbara, a vossa madrasta, vamos educar-vos como deves ser: bem e rigidamente, nem que isso implique dar-vos uns estalos de vez em quando. - E pronto, o pai já tinha estragado tudo outra vez e era fácil reparar nisso ao ver a cara assustada do meu irmão mais novo. Olhei para a porta e vi surgir uma cabeça como quem diz “Ahah...! Era mesmo isto que eu queria... pôr aquelas duas terríveis crianças com esta cara... que visão maravilhosa”.
-Babá... olha-me só estes mimados, abraçados um ao outro e a chorar que nem um oceano... sinceramente, se não tivéssemos vizinhos eles ficavam cá fora a noite toda! Vá entrem e não vos quero ouvir a dizer nem uma palavra.
Pedimos desculpa por este capítulo não estar tão bom com o normal, mas com a escola e os testes não conseguimos ter muita inspiração para escrever. De qualquer forma, esperamos que tenham gostado e já sabem, queremos muitos comentários, pode ser? :D