04
Nov 11

-Já voooou! - Gritei, sem reparar que no quarto ao lado, o meu irmão gritava praticamente o mesmo. Era sempre a mesma resposta quando a mãe chamava para o jantar e nós estávamos a jogar playstation ou a ouvir a nossa música preferida. Ainda que tivéssemos adorado a nossa mudança para casa da minha mãe (mesmo que o fim de semana fosse em casa do pai), continuávamos preguiçosos e às vezes, estávamos tão concentrados a relaxar, que nem ligávamos à nossa mãe, que tanto tinha feito por nós. Assim que me lembrei disso, meto a música em pausa e corro até à sala de jantar, a respirar pura e normalmente para que ela achasse que só tinha chegado tarde por estar a andar devagar.

-Daniel? O que fazes tu aqui? - perguntei espantada ao ver tal pessoa na minha sala

-Como soube que voltaste para aqui, mesmo que só fiques durante a semana, vim visitar-te e festejar contigo.

-E estás aqui sentado na mesa de jantar, sem teres avisado nada? Não ouvi ninguém bater à porta...

-Avisei a tua mãe e isso chegou-me - cheguei-me perto dele, sentei-me ao seu colo e dei-lhe um beijo leve, antes de sorrir - espreitei pela janela, e como estavas a ouvir música, não te quis incomodar. E foi por isso que não me ouviste bater... - riu-se.

-Vá meninos, parem lá com o namoro, que agora é jantar. - Rimo-nos tantas durante vezes que nem dei conta do tempo passar.

A semana passou num ápice e como combinado com o meu pai, a minha madrasta e o “Lulu” foram buscar-nos a casa. Claro que assim que chegaram a minha casa, começaram logo a coscuvilhar todas as divisões e a apontar todos os erros de decoração da casa. Eu e a minha mãe não ligámos nenhuma, mas o meu irmão, sentiu-se insultado quando disseram que as paredes do quarto dele não deviam ser azuis, mas sim cor de rosa. Eu e o Duarte viemos o caminho todo a gozar com as estranhas opções de decoração deles, afinal, eles mereciam uma vingança bem grande. Combinámos pegar nos nossos lápis e riscar as paredes todas, mesmo em frente à minha madrasta e ao mimado do Lulu, mas claro que eles não acreditaram em nada do que nós dissemos. Ao vermos que eles não acreditavam, decidimos pôr a vingança em acção. Já de noite, quando todos estavam deitados, provavelmente no seu terceiro sono, nós com pézinhos de lã e com os lápis na mão dirigimo-nos à sala. Olhamos um para outro, a pensar se devíamos mesmo vingar daquela maneira, acabámos por assentir com a cabeça e pusemos as mãos ao trabalho.

-Ah, CHUCHU, olha-me bem para aqueles riscos! Os teus filhos são marginais! - reclamou, em alta voz, Bárbara para o seu rico namorado, o meu pai.

-MATILDE! DUARTE! CHEGUEM AQUI IMEDIATAMENTE! - gritou o meu pai, enquanto nós já descíamos as escadas, tentando controlar o riso.

-Oh pai, deixa-me tomar o pequeno-almoço que eu tenho de ir comprar umas coisas à papelaria antes que ela feche às 13h00. Podemos falar depois? - disse, tentando poupar o sermão ou pelo menos adiá-lo para outra altura, talvez... nunca.

-NÃO! COMO FORAM CAPAZES DE DESTRUIR ASSIM A CASA? ISSO É PURO VANDALISMO! PODIA CHAMAR A POLÍCIA AGORA MESMO!

-Força! Chama! - disse calmamente enquanto pegava numa maçã e saía de casa.

-VAIS DORMIR NA RUA, HOJE! - ainda ouvi o grito do meu pai a uns 5 metros de casa. Sem me preocupar minimamente se ia dormir na rua, na sala ou no chão, segui caminho mas em vez de ir à papelaria como havia dito decidi dar uma volta numa praia ali perto.

A brisa do mar acalmava-me sempre, e essa era uma das vantagens de viver mesmo ali ao lado. Era praticamente atravessar uma ou duas passadeiras, passar pela pastelaria para comer a minha bola de berlim, e caminhar até ao mar. Sentei-me à beira do mar, vestida, e inspirei aquele ar puro leve e repetidamente; chamei os pensamentos positivos e libertei os pensamentos negativos, que ficaram a pairar numa nuvem distante. Quando já me sentia aliviada e mais “leve”psicologicamente, já a noite ia longa. Só de pensar que tinha passado ali o dia e só tinha comido uma maça e uma bola, dava-me náuseas. A minha barriga estava a andar às voltas, e achava que ia desmaiar a cada passo até regressar a casa.

 

***

-Filha, ai filha, por favor, por tudo o que é sagrado... responde... responde-me filha! - ouvia alguém gritar-me, mesmo por cima da minha cara. Conseguia detectar sons, movimentos e a respiração de cada pessoa que se encontrava naquela sala, mas não conseguia dar sinais de vida. Não tinha sido só a falta de comida, isso já sabia, mas ainda não tinha percebido bem o que se passava comigo. Fiz um esforço e tentei abrir os olhos, mas a única coisa que aconteceu foi outro grito do meu irmão que se devia encontrar nada mais nada menos, que no fundo da cama. Depois, tentei que algum som saísse da minha garganta, mas apenas senti uma barriga vazia e cheia de dores. Sabia que teria de dar sinais de vida o mais depressa possível, mas simplesmente, parecia que me encontrava morta. Juntei todas as minhas forças: pensei no Daniel, pensei no meu irmão, na minha mãe e até mesmo no meu pai... e resultou. Finalmente consegui abrir os olhos e deparar-me com dezenas de caras a suspirar em uníssono. Gemi de dor, e os meus olhos pararam na minha mãe:

-Mãe... - Tentei tirar um braço debaixo dos lençóis, mas não consegui mais do que levantar a mão a escassos centímetros do colchão.

-Peço por favor que apenas a Sra. Alice e o Sr. Joaquim permaneçam aqui. Depois as novidades serão entregues - Olhei para o médico, de seguida para a cara do meu irmão, e suspirei, sem saber o que fazer. Quando todos saíram, excepto os meus pais, perguntei:

-Mãe... doutor? - Não era bem uma pergunta, mas dava para perceber. Ela olhou para o meu pai que depois de me olhar, abanou a cabeça, num gesto negativo.

-Filha, descansa agora, nós falamos depois contigo, sim? Adoro-te incondicionalmente, espero que saibas isso. - respondeu, enquanto me fazia festas na cabeça. Até adormecer, ainda demorou algum tempo, a pensar no quê. No quê é que eles me tinham para dizer que fosse tão importante que ainda tinha de esperar e que eles tinham de falar para mim como se fosse o último dia da minha vida. Na verdade, talvez fosse.

 

 ---

Espero que tenham gostado deste capítulo, e avisamos já que agora com os testes, trabalhos de casa e falta de inspiração, vamos passar a postar menos. Vamos sempre tentar postar pelo menos um capítulo por semana, mas nem sempre é compatível com o nosso horário!

 

Esperemos que tenham gostado, e acima de tudo, comentem :) queremos saber o que estão a achar! Um capítulo de suspense, não acharam? :b

publicado por ♥ C. às 18:25
25
Out 11

“Querido diário,

Já passaram três semanas desde a primeira visita do “Lulu” como os pais lhe chamam, ou Luís como eu me limito a dizer. O rapaz ainda só veio cá umas quatro vezes e já se acha dono desta casa. Primeiro, começou por implorar ao pai para ficar com o meu quarto que é maior... claro que o pai aceitou. E depois ainda disse que quer que a casa de banho em frente ao meu (agora dele) quarto seja só mesmo para ele. -.- O puto já só faz asneiras cá em casa... desde colocar pastilhas na carpete e me obrigar a esfregá-las. É claro que das duas vezes que ele fez isso, levou um estalo bem grande nas costas. E só não foi na cara, porque nas costas não deixa marca tão grande.

Bem, já me estou a cansar de falar de cenas más. Agora vamos ao que importa: o meu pai como me quer ver sempre fora de casa nos seus momentos privados com a minha madrasta idiota, deu-me bastante dinheiro para poder ir a Braga sempre que quiser. Tenho passado imenso tempo com o Daniel e verdade seja dita que, para quem nunca teve uma namorada, se está a sair bastante bem.

Houve um depoimento no tribunal  e a minha mãe disse-me qualquer coisa de que as coisas estão a correr bem para o nosso lado; ela foi promovida e arranjou um advogado melhor pelo que a casa já fica dela, quer o meu pai queira ou não. Quanto a mim e ao meu irmão, parece que ainda falta um bocado... Vou ao tribunal amanhã e estou muito nervosa, treinei tudo com o meu pai e com a minha mãe, mas é claro que vou fazer apenas o que a mãe me disse. Afinal, mãe não é pai e o meu pai deve ser o pior de todos -.- lá estou eu outra vez a falar de coisas más... bolas! A minha vida é o INFERNO!!


Bem... boa noite diário, dorme bem :3 “


Fechei o diário, guardei a chave no meu colar e guardei-o na segunda gaveta do meu novo quarto. Dei um beijo leve ao meu irmão que já dormia, apaguei a luz do candeeiro e deitei-me. Tentei pensar num sonho que fosse bom mas acabei por adormecer no meio de pesadelos e mentiras.


***


O dia seguinte fez com que o que eu tivesse escrito no diário, tivesse dado uma completa reviravolta. Acordei com um telefonema da minha mãe a mandar-me despachar porque já estava atrasada para o dito depoimento.  Meia ensonada, levantei-me, tomei um duche rápido e vesti a roupa que já tinha programado usar. Dois minutos depois de ter acabado de pensar para mim tudo o que ia dizer, o meu pai abre uma frincha da porta a dizer imediatamente o que a minha mãe me dissera minutos antes. Assenti e passado apenas meia hora, já estava à espera na sala do tribunal. Por fim, chamaram-me para depor. Sentei-me na cadeira e esperei pela primeira pergunta. Sentía-me a tremer dos pés à cabeça, mas cada vez que olhava para trás e via o meu irmão numa das primeiras filas, acalmava-me logo. E foi aí que começou, o depoimento.

publicado por Mafav às 17:09
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